“Para seres um bom manager, tens de saber o que é que cada pessoa está a fazer. Podes não saber como fazê-lo, mas tens de saber como e quando estão a fazê-lo e durante quanto tempo.”
Nasceu na ilha do Pico, em São Mateus. Quando acabou o 5º ano foi ter com o pai aos Estados Unidos. Licenciou-se em Engenharia Civil. Apesar de ser inteligente diz que era “preguiçoso, muito preguiçoso”, mas ao mesmo tempo gostava de um bom desafio. Esta sua faceta terá sido, em grande parte, o mote para o sucesso que alcançou como executivo.
Na universidade desafiou um professor de que seria capaz de passar à sua disciplina sem fazer qualquer trabalho de casa (coisa que o professor tinha alertado ser impossível.) No final do ano, o professor chumbou-o. No ano seguinte chegou à aula do professor Venuti e, dando a mão à palmatória, disse-lhe que faria o trabalho de casa pois precisava da disciplina para passar de ano. Para sua grande alegria o professor, logo após a primeira aula, informou-o que não necessitava de repetir a disciplina pois tinha passado no ano anterior com uma nota de B+. O professor quis apenas ‘dar-lhe uma lição’.
Curiosamente iniciou a sua carreira como assistente do professor Venuti num projeto para uma empresa sueca. Foi na Suécia que fez a sua Pós-Graduação e onde acabou por sair da área de engenharia civil, onde só trabalhou dois anos, para entrar na área da gestão, área essa que abraçou até aos dias de hoje.
Trabalhou para empresas estrangeiras fora dos Estados Unidos com bastante sucesso, mas desejava regressar e em particular para o Silicon Valley, “era o lugar para se estar” nos anos 80, diz. Regressa e entra para a Oracle e torna-a numa empresa global levando-a para vários países incluindo a Austrália e o Brasil. Sai da Oracle e entra como executivo na Adobe onde ficou durante 4 a 5 anos. Deixa a Adobe e vai para uma startup como era apanágio na altura em Silicon Valley e é quando está nessa startup que recebe um telefonema de um recrutador que irá mudar o rumo da sua vida. O telefonema era para uma entrevista com o realizador de cinema George Lucas que procurava alguém com o seu perfil.
Desde então, e há 16 anos, Ângelo é gestor do património do realizador. “Hoje em dia tudo junto temos cerca de 26 empreendimentos, 26 companhias”, explica, salientando que “durante muito tempo estas empresas vieram de ideias”. Dá-nos o exemplo da compra de um convento em Itália que o realizador gostava e que forçosamente se teria de transformar em algo rentável -, passou a ser um empreendimento turístico de topo de gama, onde o “cliente é rei e tem sempre razão”.
É firme no que toca a qualidade, “mais de que quantidade é a qualidade” que importa. Esta filosofia partilha-a com os 200 funcionários das várias empresas de Lucas. O seu estilo de gestão, marcadamente moderno e informal, passa por uma “tremenda quantidade de disciplina a nível da qualidade” que ele lidera com o seu próprio exemplo. Atendendo à pandemia as reuniões são feitas virtualmente sob o mote de “beber um copo com o Ângelo”. Fala-lhes do que se está a passar, quais os desafios que encaram, responde às perguntas que lhe fazem e informa o mais honestamente possível sobre o ponto de situação para que cada um se possa situar.
Destaca duas pessoas que o influenciaram e cujas ‘lições’ ficaram com ele. A primeira foi o seu professor de faculdade, Dr. Venuti, cuja história já conhecemos. O segundo foi um colega alemão que o levou a um concerto sinfónico com o intuito de lhe explicar que um bom manager é como um maestro, que não toca cada instrumento naquela orquestra mas sabe quando é que cada um daqueles instrumentos tem de começar e tem de parar, “para seres um bom manager, tens de saber o que é que cada pessoa está a fazer. Podes não saber como fazê-lo, mas tens de saber como e quando estão a fazê-lo e durante quanto tempo.” Não gostou da música clássica, mas aquela lição, que ‘aprendeu’ em 79/80, ficou com ele até aos dias de hoje.
Sempre “com um desafio” em mente, está atualmente empenhado num novo projeto de Lucas. Um museu do século 21, em que o próprio edifício do museu é algo inédito pois reflete a tecnologia e o design de ponta do futuro, que deverá abrir ao público em finais de 2022.
Tem por hábito vir à ‘sua’ ilha no mês de agosto, aliás esta é uma das condições do trabalho que tem com George Lucas -, de se poder ausentar em agosto. É no Pico que se sente ‘ele próprio’ -, “vou para o Pico e sou só o Ângelo, não sou um executivo”. Estar no Pico com os amigos é “ter os pés assentes na terra” -, “O que o Pico me faz é trazer-me ao mundo real, é isso que é importante”, afirma. Participar neste projeto da CRIAR TEC é também uma forma de estar perto da sua ilha, diz-nos ao agradecer o convite de mentoria que lhe fizemos. Com convicção diz-nos que tudo fará para contribuir para o desenvolvimento da economia no Pico e nos Açores, e nós acreditamos!