“… é necessário perceber o que entra numa história, como se pega em algo muito técnico e se constrói uma história interessante e que faz as pessoas quererem escrever sobre ela.”
Não é todos os dias que se conhece alguém Luso-Americano de 3.ª geração tão envolvida, e com tão fortes ligações à comunidade portuguesa, como Ângela Simões. Nasceu na Califórnia —, bisneta de avós (tanto maternos como paternos) —, que emigraram para a América entre 1910 e 1920. Cresceu em Sacramento e lembra-se desde sempre de ‘pertencer’ à comunidade portuguesa, muitas das suas recordações são das ‘festas’, do ‘desfile das marchas’ e mesmo não havendo muita comida portuguesa em casa, não falta, alerta-nos, “a linguiça, o arroz-doce e todas essas coisas boas.” Guarda muito boas recordações do tempo em que a família se juntava e ia ao ‘centro’ (comunitário), “tenho muito boas memórias desses dias que nos fizeram ficar muito orgulhosos e felizes de sermos portugueses.”
Tal como a maioria dos jovens americanos começou ‘a trabalhar’ logo no início da adolescência. Primeiro como ama nas férias do verão e após o horário escolar durante a semana. Durante a faculdade trabalhou como vendedora em várias lojas enquanto tentava arranjar estágios na sua área de estudo que era comunicação. Um dos primeiros foi na Deloitte onde conheceu o ambiente de escritório num “cubículo a inserir dados” e outro foi na Bloomberg onde imprimia os headlines (títulos).
Trabalha como consultora na área das relações públicas, a sua área de excelência, da qual sempre gostou, mas à qual chegou através de um percurso pouco linear.
Na faculdade foi dissuadida da área de relações públicas por terem-lhe dito que seria a voz e rosto do cliente perante a comunicação social. Foi razão suficiente para não considerar essa opção, não se via nesse papel. A finalizar o curso soube que a organização lusa em Washington DC, a PALCUS, procurava uma assistente executiva —, decidiu candidatar-se. Curiosamente a entrevista decorreu em Lisboa onde estava a decorrer a Expo 98. A viagem, a primeira a Portugal, conta-nos, era uma prenda de fim de curso que se tinha, e o diretor-executivo da PALCUS também se encontrava na cidade. Quando regressou da viagem já tinha assegurado a posição, e, duas semanas depois, mudou-se para a capital americana.
Foi ainda ao serviço da PALCUS e novamente em Lisboa que surgiu a oportunidade de alterar o seu percurso. Na conferência onde participava conheceu a proprietária de uma agência de relações públicas que lhe disse “acho que serias muito boa em relações públicas”. Explicou-lhe o motivo que a levou a não ingressar nesse ramo. A resposta que lhe foi dada mudou tudo. Ficou a saber que nas empresas de “alta tecnologia” não teria de ser a voz do cliente, ela seria a pessoa que trabalharia nos bastidores. E recebeu um convite para trabalhar na agência quando quisesse regressar a São Francisco, pois era ali que estava sediada. Com saudades de casa e desejo de voltar aceitou o convite, começando assim o seu percurso como relações públicas.
Tudo isto estava a acontecer na era “.com”, uma altura dinâmica com dezenas de start-ups bem financiadas e muitos CEOs de 22 anos. Durante algum tempo trabalhou para agências de pequena dimensão, mas aonde aprendeu muito, diz-nos. Transitou eventualmente para uma agência maior e dali para a Autodesk onde ficou durante nove anos. Quando a oportunidade surgiu, tinha um cliente no Porto para o qual trabalhava em part-time e que mostrou interesse nos seus serviços, decidiu trabalhar por sua conta. É o que faz há cinco anos com sucesso.
Gosta da liberdade de horário que tem e de não estar presa a uma rotina, mas, reconhece, acaba por trabalhar muitas mais horas. De momento tem cinco clientes —, seis, diz, se contar com o trabalho que faz para a PALCUS enquanto membro da direção. No seu dia a dia reúne com clientes, prepara lançamentos, formações, escreve artigos e comunicados, organiza conferências de imprensa, gere redes sociais… ‘raramente se liberta’ do trabalho, no entanto, não se revê na rigidez de um escritório.
Dá muito valor à aprendizagem que lhe facultaram, quer na pequena agência onde esteve durante ‘uns três, quatro anos’ e onde, sendo o elemento mais jovem, recebeu encorajamento e incentivo das outras colaboradoras, quer, já numa posição mais sénior, ser ‘posta à prova’ para garantir estar confiante das suas capacidades.
Conhecendo o talento e caráter da Ângela sabemos que terá inúmeras maneiras de contribuir para a incubadora da CRIAR TEC, de ajudar as pequenas empresas e empreendedores a expandir os seus negócios. Afirma com entusiasmo que “adorava ajudá-los a perceberem como funcionam as relações públicas, como comunicar com os media e como comunicar a sua mensagem para o mundo”. É necessário, enfatiza, “perceber o que entra numa história, como se pega em algo muito técnico e se constrói uma história interessante e que faz as pessoas quererem escrever sobre ela.” É isto que espera transmitir e também a ideia de que é um processo contínuo.
Ao longo da sua vida, esteve sempre ligada à comunidade portuguesa. Gostaria de ter mais clientes portugueses, eventualmente vir para Portugal, ver a sua filha numa universidade portuguesa. Atingir esse objetivo seria ‘ouro sobre azul’ e ajudar “a nossa comunidade” era o que mais gostava de fazer, “de ser parte dos recursos das companhias portuguesas.”