Camilo Simões

“Quando se é feliz, trabalha-se melhor, pensa-se ‘fora da caixa’, a frustração não gera boas soluções.”

Nasceu na ilha Terceira no seio de uma família de músicos e de gente envolvida na comunidade. Foi uma criança feliz,  desde sempre muito ativo e com interesses variados. 

O sonho era ir para a Universidade de Aveiro e tirar o curso de Engenharia Eletrónica e Comunicações, mas a envolvência e o gosto pela música puseram o sonho em banho-maria. Durante três anos andou a tocar música, criou bandas e fez um ‘monte’ de concertos. Retomou o sonho e aos 21 anos ingressou na universidade e no curso que queria, mas cedo percebeu que o curso não correspondia ao seu desejo de comunicar e interagir mais com as pessoas. Ao fim de cinco anos decidiu “encontrar alguma coisa na área da música”. Em 2008 partiu rumo à Holanda para estudar Artes de Gravação. Enquanto estudava foi fazendo outros trabalhos. Trabalhou para a MTV, Viacom, o que lhe viria abrir algumas portas, e ainda como freelancer de áudio, fazendo trabalho de estúdio e de eventos ao vivo, incluindo as Festas da Praia. Foi com a Viacom que o seu percurso profissional começou -, primeiro como operador de transmissão e depois na área das operações. A falta do lado criativo que cultivara -, “as operações e a criatividade não andam normalmente juntas” -, levou-o a deixar a Viacom ao fim de cinco anos.  

Focado em “ter um lugar na criatividade, num trabalho que fizesse história” sentiu que o percurso natural seria ir para área de marketing de uma marca. Foi com esse propósito que se candidatou à Nike. Entrou como produtor criativo para a nike.com, um papel que, percebeu, não era tão criativo quanto parecia. Ao fim de seis meses ficou responsável por fazer crescer a equipa de produção de conteúdos da nike.com. A equipa de cinco pessoas passou para 40 pessoas reforçando o seu sucesso como “excelente profissional de operações”. Para alcançar o tão desejado lugar “para fazer história” deslocou-se para um território. Chegou a Roma como retail brand marketing manager para a NIKE. Como responsável pela colocação visual do produto (face marketing) de 22 lojas e marketing para os membros e consumidores aplica o seu lado criativo em 80% do trabalho que faz, que pode passar por produzir um evento, criar um outdoor ou uma app, organizar uma grande atividade em conjunto com equipas, ou celebrações quer de negócios, quer de atletas que fazem parte da marca. Alcançou o objetivo que tinha desde criança, ou melhor, está “um passo mais perto” de onde quer estar. 

O dia perfeito é quando lança a campanha. É quando a história que criou é posta à prova porque o que gosta mesmo é “a parte de contar histórias e criar essas histórias para os consumidores”. 

Estar sob pressão e fazer as coisas acontecer é algo que não o incomoda faz parte de trabalhar ‘no digital’ onde as coisas acontecem numa fração de segundo. A dificuldade reside na gestão do tempo, algo que reconhece como um dos seus pontos fracos, mas isto muito porque “quer chegar a tudo”. Essa é, para si, uma parte difícil do trabalho. Tal como é não conseguir um determinado resultado. Tem que se dar respostas, reconhecer que o trabalho não correspondeu ao que as pessoas, a empresa, esperavam. Gerir estas situações é muito difícil. 

No caso das startups isto é muito importante também, salienta. A pessoa pode pensar que tem a melhor ideia do mundo, a melhor coisa do mundo e que vai ter imenso sucesso e no fim isso não se torna realidade. “Talvez porque não estudou o mercado certo, talvez porque ainda existam algumas coisas que têm de ser trabalhadas, seja o que for, e no fim esta vai ser a parte mais difícil daquele trabalho porque a pessoa vai sentir que falhou e tem de ultrapassar isso, de reorganizar as ideias e fazer melhor”. A parte difícil vai estar sempre lá, avisa. O que é preciso é encontrar uma forma diferente e ser criativo. 

Quando a conversa incide sobre quem o mais influenciou aponta de imediato para o seu  segundo manager na NIKE. Um bom manager tem de saber guiar não “da forma como tu queres, mas da forma que tu precisas”. Reuniam uma vez por semana e faziam-no de uma forma menos convencional -, falavam durante uma hora enquanto faziam uma caminhada. As conversas que tiveram durante um ano e meio incidiram sobretudo em assuntos pessoais e não sobre trabalho. Numa altura muito desafiante -, passar de cinco para 40 pessoas e alterar todo o sistema digital da NIKE na Europa -, houve momentos de quebra, mas aquele manager naqueles 99% de conversas pessoais ajudou-o e guiou-o a ser um melhor manager, um melhor profissional e uma melhor pessoa. 

Espelhou a sua carreira neste modelo. O foco na relação pessoal com os membros da sua equipa permitiu-lhe criar uma relação de proximidade que resulta em pessoas mais felizes. Quando se é feliz, trabalha-se melhor, pensa-se ‘fora da caixa’, a frustração, diz, não gera boas soluções. 

É nesta área que se revê no papel de mentor, contribuir no futuro das equipas que vão fazer parte da CRIAR TEC, ‘ajudar com os aspetos pessoais’. Vê o processo de mentoria como um processo natural porque vai estar próximo de algo da sua terra natal, dos Açores, o que por si só já é ‘fantástico’. Depois vem ‘toda a rede’. Fazer crescer a rede. Aprender sobre pessoas novas, ver formas diferentes de fazer as coisas, “porque nos Açores as coisas vêem-se de forma diferente”. Fazer com que essas pessoas falem, mudem de mentalidade, que falem sobre coisas que talvez nunca pensou, vai ajudá-lo no seu trabalho agora e no futuro. O ser mentor tem tudo a ver com crescimento pessoal, “ligar as pessoas, perceber as suas necessidades, partilhar as minhas experiências, porque tenho um background muito estranho e partilhar isso, a minha personalidade, o meu ponto de vista, a experiência que eu tive, vou receber muito deles. Vou receber a sua insularidade, vou receber as suas necessidades de serem maiores e não poderem, vou receber a sua necessidade de fazer algo, mas ainda não estarem preparados. Vou receber isso, vou aprender com isso e vou obter as suas ideias que mais ninguém tem. Isto vai ser um ganho. Vão ser as pessoas, as relações e as ligações que eu vou receber. Para mim isso é suficiente, claro.”

Na entrevista vai ficar a saber sobre o sucesso que alcançou na organização da Dream Zone (tenda de música eletrónica) das Festas da Praia. Que  teve que batalhar para acreditarem nele, que não aceitou o não como resposta. Saberá mais sobre como a sua resiliência, a que também chama criatividade, o ‘safou’ em Amesterdão onde mudou de casa seis vezes num mês, e como de estagiário se tornou em ‘herói’ no Amsterdam Dance Event (ADE).