Enrique Diaz

“É importante, afirma, que reconheçam que por detrás de “cada pequena tecnologia, ecrã tátil, botão, cor de interface, design, hardware que está a ser usado, software que está a ser desenvolvido há um humano, há um indivíduo diretamente responsável…”

Nasceu no México, no Estado de Guanajuato, em tenra idade foi para os Estados Unidos com os pais que foram trabalhar na agricultura no Central Valley na Califórnia. O trabalho duro que faziam com temperaturas a rondar os 44.º motivou-o a ficar na escola, continuar os estudos para ter uma vida diferente, algo que os pais também encorajavam.

Com a inocência própria da idade apenas almejava um trabalho onde houvesse ar condicionado. Sabia que as secretárias trabalhavam em escritórios com ar condicionado por isso aprendeu a datilografar. Mas, era a matemática que o interessava. E também gostava de línguas. Para além do castelhano, aprendeu francês e foi na simbiose entre matemática e línguas que encontrou a sua área profissional — ciência e engenharia de computação. No fundo, tratava-se, de questões de “semântica e sintaxe, regras, etc.”, diz-nos, questões abordadas na aprendizagem de um idioma, contudo na computação não há subjetividade.

Não tinha grandes notas por isso teve de se aplicar muito aos estudos quando entrou para o curso na San Luis Obispo. Teve de repetir algumas disciplinas, mas nunca desistiu. Acabou o curso ao fim de seis anos. E é essa a mensagem, afirma, “é não desistir”.

Começou a carreira como estagiário na HP, que estava no auge, e depois foi para a Apple, onde está há 25 anos. Ainda como estudante, viu-se a ganhar um salário “de lorde”, a viajar para todo o lado, com todas as regalias. Foram tempos memoráveis e reconhece que terá sido uma combinação de conhecimento com o tempo em que se vivia — estava-se em 1995 e os computadores estavam a ‘abrir caminho’.

Fez parte de muitos projetos da Apple, mas o que destaca é o iMac. Trabalhou especificamente na Ethernet. Fê-lo durante três anos sem saber qual o produto final. É verdade o que se ouve sobre a Apple manter tudo em segredo, “eu não soube do iMac até ao dia antes de ser anunciado”, confidencia. Retém sobretudo o impacto que o iMac teve na indústria e mais ainda pelo que este representou para a empresa. Tornou tudo possível para a Apple. E, concorda, foi, também, o ponto de viragem em termos de marketing com Steve Jobs — o iMac deixou de ser apenas computador e passou a ser uma afirmação de estatuto.

Mesmo num trabalho com um grau elevado de autonomia, como é o seu, diz que em última instância qualquer trabalho “tem a ver com as pessoas, com os managers com quem se trabalha.” No seu ver os que defendem a família são os melhores. Houve uma altura que lhe foi pedido que fosse a Israel. A situação no país estava particularmente difícil, mas aceitou ir. No entanto, o seu manager, que no exterior era um ‘duro’, impôs-se e informou que “o Enrique é um homem de família” que não tinha de correr esse risco, a empresa que pagasse para “eles” virem ter com ele. Com esta postura ele mostrou-me, diz-nos, que podemo-nos defender, tomar a posição correta sem ter que dizer ‘sim’. O “não” pode ser apenas encontrar uma solução alternativa.

Esse aspeto humano é como vê o trabalho que pode desenvolver enquanto mentor na CRIAR TEC. É partilhar o conhecimento num ponto de convergência onde a fasquia não pode estar fora do alcance do outro, mas sim mostrar que “é possível”. É importante, afirma, que reconheçam que por detrás de “cada pequena tecnologia, ecrã tátil, botão, cor de interface, design, hardware que está a ser usado, software que está a ser desenvolvido há um humano, há um indivíduo diretamente responsável e não há nenhuma razão para que qualquer uma dessas pessoas não possa ser a pessoa diretamente responsável”. E isto aplica-se a todos, quer sejam mulheres ou pessoas que pensam que ‘não pertencem’, refere. A diferença entre o seu tempo de estudante onde tinha três mulheres colegas no curso para uma participação de 50/50 atualmente é prova disso, diz.

Para si, que tem uma ligação especial ao Pico — a esposa é Picoense, visita a ilha frequentemente, fala uma “coisinha” de português, adora “as sopas”, participa nas “festas” com a sua filha — vê esta colaboração como o completar do ciclo como numa cadeia de favores. Que o que ele partilhar seja depois partilhado será suficiente, mesmo que já não o testemunhe. Essa, diz-nos, é a recompensa que idealiza.