Ivo Sousa

“Entendo que se quisermos, estamos todos os dias a aprender e o que aprendemos dá-nos ferramentas para, no futuro, podermos criar algo novo que, ou melhore o que temos ou resolva uma necessidade…” 

Quem reside na ilha do Pico decerto já ouviu falar de Ivo Sousa? Quem eventualmente não conhece o nome, conhecerá, ou já terá ouvido falar, do seu popular blogue “Cais do Pico”. Falaremos desse fenómeno de popularidade mais adiante, agora vamos saber um pouco mais sobre o seu autor. 
 
É natural da ilha montanha e nasceu precisamente no Cais do Pico. Teve uma infância muito normal, quer dizer que “queria era brincar na rua”. À medida que foi crescendo os seus interesses foram mudando. Primeiro surgiu a ideia de ser pescador, muito por causa do avô que acompanhava nessa atividade, depois surgiu o fascínio por aviões e contemplou ser piloto, mas mais tarde interessou-se pelos aparelhos eletrónicos — queria saber como funcionavam. Dá-nos o exemplo do telefone. Queria saber como era possível a comunicação entre pessoas em diferentes lugares do mundo. Decidiu que um dia ia descobrir “esse truque de magia”. Nasceu aí o interesse pelas telecomunicações. 

Estudou no Instituto Superior Técnico onde se formou em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. É Mestre e Doutorado. Das cinco áreas de especialização do curso: Computadores, Energia, Sistemas Decisão e Controlo, Eletrónica e Telecomunicações, optou por esta última — não desistiu de descobrir o tal “truque de magia” — e com uma subespecialização em Sistemas de Telecomunicações sem fios, que a seu ver “são os mais desafiantes”.  

Após os estudos, que incluíram um Pós-Doutoramento, fez investigação durante bastante tempo, diz-nos, mas agora está dar aulas no Instituto onde estudou, “a convite da instituição” sublinha. Mas, continua como investigador. Faz investigação em duas vertentes: abordagem dos problemas, relatar sobre os mesmos e comunicar à Comunidade Científica e orientar os alunos mais novos (conta já com seis alunos sob a sua alçada). A investigação é feita através do Instituto de Telecomunicações, um laboratório estatal, que está associado a várias universidades e também a algumas empresas do setor privado.     

No seu gabinete no 10.º Andar tem uma bela vista sobre a cidade de Lisboa, mas que não é igual à que tem na sua ilha, por isso tem “uma fotografia enorme do Pico”. É aqui que desenvolve o trabalho de investigação que atualmente incide sobre “a transmissão de vídeo omnidirecional sobre redes sem fios”. Não está envolvido na parte de vídeo, mas sim “na parte dos algoritmos que depois transmitem informação de um ponto para o outro sem fios”, explica. 

O gerar conhecimento e a partilha do mesmo é o elemento que mais gosta no seu trabalho. Acredita que, “se quisermos, estamos todos os dias a aprender e o que aprendemos dá-nos ferramentas para, no futuro, podermos criar algo novo que, ou melhore o que temos ou resolva uma necessidade que temos.” Entre o ensino e a investigação não tem preferência. O ensino é uma atividade que lhe é “muito gratificante” e a investigação “é maravilhosa, quando aquilo dá certo”. Infelizmente a valorização é sobre o que dá certo e não sobre as tentativas, lamenta.  


É quando falamos dos seus tempos livres que surge na conversa o blogue “Cais do Pico”. Isto porque o popular blogue, onde se pode ficar a par das últimas notícias e acontecimentos do Pico e consultar os horários das ligações com a ilha e dentro dela (voos, barcos, autocarros), é algo que faz por carolice, por prazer. A ideia do blogue surgiu por necessidade própria. Procurava os horários das embarcações e não encontrava facilmente. Por ‘defeito profissional’ pensou, ‘não existe, então faz-se’. Foi por aí que começou e ainda hoje essa é a informação mais procurada. O blogue tem uma média diária de 1000 visualizações, e há meses que chega às 40.000. Para uma ilha com cerca de 15 mil habitantes são números significativos, diz-nos, e acrescenta, “o blogue chegou a estar no Top 50 nacional dos blogues mais vistos. Ter um blogue do Pico e estar no ranking nacional é um orgulho para mim.” 

Esta plataforma de comunicação será, pensa, um bom ponto de partida para a sua colaboração com a CRIAR TEC, “acho que posso ajudar a fazer a ponte entre o que se faz na ilha do Pico e os anseios das cidades.” Mais precisamente, sente que pode “dar um contributo direto e bastante aprofundado na viabilidade de tecnologias na área das telecomunicações”, sobretudo no que se “perspetiva na sua evolução futura”. Pode ainda contribuir nas áreas de “deteção de padrões e ferramentas estatísticas” que, diz, podem ser “úteis nas mais variadas situações”.  


Para si, o acesso a pessoas que desenvolvem coisas novas “é sempre fantástico”, porque, explica, “há novas ideias que eventualmente até podem ser usadas na investigação que faço.” Se uma empresa na incubadora da CRIAR TEC tiver necessidade de algo que ainda não exista, a viabilidade tecnológica da ideia pode ser avaliada através da investigação — se pode ou não ser implementada, ou o que é preciso para a implementar. Para além do mais, há o orgulho e satisfação em ver uma empresa criada na incubadora ter sucesso, “mostra que o que se faz no Pico tem muita qualidade”.